sábado, 27 de fevereiro de 2010

A vida


Dia 12 de fevereiro de 2009

Ultrassonografia: batidas rápidas

Pela primeira vez via e ouvia meu filho

Finalmente realizava que havia acontecido um milagre:

Uma vida dentro de mim

Dia 12 de fevereiro de 2010

Toca o celular

- Há uma chamada do seu pai.

- Apenas uma? Não deve ser nada urgente... ligou de casa.

Minutos depois... faço a ligação:

- Oi fui eu que liguei. Tava preocupada. Seu pai não acordou até agora, mas falei com o seu irmão que já está chegando.

Meu coração bate acelerado... e sem pensar liguei pro meu irmão.

- Está chegando? Ué, mas pq eu estou te ligando? - Desliguei imediatamente e retornei para o número anterior.

- Por que não abriu a porta do quarto? Abra agora que ficarei na linha.

- Pode abrir?

- Sim, abra logo.

Gritos.... (de um lado da linha)

Gritos.... (do outro lado da linha)

Meu filho que naquele momento estava na minha frente, se assustou com a minha reação.

Felizmente tinha quem me ajudasse.

Vá que eu fico com ele... Não se preocupe com isso.

A noite foi longa e os dias que se seguiram... os mais difíceis da minha vida.

Exatamente um ano após ver meu filho pela primeira vez, descobri que meu pai não estava mais aqui.

Na véspera havia falado com ele por telefone, até começar o jornal:

- Amanhã nos falamos... começou o jornal.

Não acordou...

Bonita forma de se despedir. Da forma que sempre desejou.

E eu que não conseguia entender por que a vida me presenteou com um filho de forma tão inesperada...

Para dar essa última alegria ao meu pai: "seu esquimozinho".

Durante os últimos meses presenciei uma transformação, ainda que gradual.

Mais paciência, mais coragem, perseverança, esperança...

A vida estava mais colorida para nós.

Meu pai se despediu deixando boas lembranças.

De uma forma muito bonita... como sempre foi sua vida.

Repleta de bonitas histórias.

Mas não tem sido facil elaborar esse luto.

O meu pequenino tem me dado muita força, junto com a família, é claro.

O quadro que está em branco recebe pinceladas de gostosas risadas, mordidas nos pés e cheirinho de neném.

A dor fica mais suave, mas ainda está lá.

Sei que terei que me esforçar e muito para passar tudo que aprendi com ele.

Seu maior legado.

Seus valores, sua ética, sua correção, sua coragem para combater o que está errado.

Não será facil.

Mas quem sabe um dia, ele sinta de mim o mesmo orgulho que eu ainda sinto.

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